28.4.05

O velho dojo

O serviço era traduzir um velho testamento que estava em um dialeto estranho, mas ainda era japonês. O objeto da herança era um estranho pavilhão, todo construído em estilo japonês, no meio das montanhas. O pavilhão era em forma de um quadrado, com um jardim no centro do quadrado, encrustado nas montanhas. Em sua frente um frondoso bosque, cujas folhas estavam marrons e não demorariam para cair. Em frente a estranha construção apenas uma singela casa, onde morava um velho caseiro japonês.

Logo eu e o senhor Pablo estavamos trabalhando no testamento, mas algo nos intrigava, junto ao testamento, havia um histórico de cada morador, de cada pessoa que havia passado naquela casa. No princípio ela pertencera a um mestre em artes marciais, que vivera nela até desaparecer misteriosamente. A partir daí a casa fora vendida pela esposa do proprietário original e passara de mão em mão, se tornando uma mansão, uma boite, casa de shows, dojo novamente e desde então estava desabitada. Como, e quem escrevera aquele histórico?

Enquanto Pablo se aprofundara na tradução resolvi fazer uma visita ao caseiro e perguntar-lhe se sabia de alguma coisa. Ao chegar em frente a casa, em um espetáculo particular, as folhas das árvores cairam todas ao mesmo tempo, formando um tapete marrom, que pavimentou minha entrada. O velho caseiro me recebeu cordialmente, seu japonês era um tanto quanto educado e sua casa era na verdade uma grande serigrafia, onde se podia ver camisetas da mafalda, de um lobo, de uma serpente, todas muito bem feitas. E o velho me dizia que se a casa se abrisse para mim, eu deveria entrar.

Decidi examinar a casa, e encontrei crianças roubando madeiras das paredes externas, mas não consegui abrir o portão principal. Ao examinar o portão descobri pequenas cabeças de samurais, que não pareciam encaixar em lugar algum, mas que se encaixaram em um pequeno altar em frente da casa. As duas abas do portão se viraram silenciosamente deixando a entrada aberta.

Neste momento Pablo, que terminara a tradução, chegou e ficou estupefado com tudo aquilo. A casa tinha uma grande quantidade de televisores, acumulados em seus anos de shows, havia também mesas e grandes lençóis nas paredes. Uma mão espectral quebrou aquele transe em que nos encontrávamos, a sala estava cheia de fantasmas, eles pareciam contar a história que havia no testamento. Em cada cômodo, um novo pedaço, fragmentos de mais de sessenta anos vividos por aqueles seres e aquelas paredes.

Todos rápidos flashes de uma história maior, até chegarmos ao quarto do primeiro dono. Pegando uma ala voltada ao jardim, que agora parecia mais vivo do que nunca, havia um quarto grande, com vários futons, e decorado com leques, lanternas e espadas nas paredes. Sentado no meio daquele aposento o dono daquela mansão, parecia absorto na mulher fantasma que gritava e parecia dizer em nossas mentes que trai-ra o antigo mestre. Incapaz de aguentar aquilo, o velho fantasma comete suicídio naquele quarto. A cena prossegue mostrando a mulher escondendo o corpo em um alçapão secreto e assinando a venda da casa.

Mesmerizados com a cena, vimos o velho mestre virar o último dono da casa, que tentara torna-la um dojo novamente. Seu destino estava naquela casa, e ele não havia conseguido sair dela novamente, morrera de um ataque cardiaco fulminante, naquele mesmo quarto. Através de um mecanismo secreto, removemos o corpo e lhe demos um enterro apropriado, e naquele momento o testamento mudou nos tornando o dono do lugar. Nossa missão era tornar aquele lugar um grande centro de treinamento marcial. Mas onde conseguiríamos um mestre? O velho fantasma nos indicou o caseiro, um mestre espadachim que nos ensinaria muitas coisas.

E neste momento a Sue me chamou e eu acordei...

escrito por Burning às 23:10 |

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